TELHAS DE BARRO
Lembro-me de um tempo feliz. Meus
pais, rodeados de seis meninos, labutavam incansavelmente para dar conta do
recado. Numa época em que tudo era mais difícil. Para chegar à escola, gostava
de atravessar o mato e ir colocando frutas do cerrado no surrado embornal de
pano, enroscando os chinelos nas raízes e galhos. Gabiroba, pitanga,
mama-cadela e tantos outros sabores peculiares de nossa terra. No almoço, nunca
faltava o pedaço de carne preparada na sustança da banha de porco, acompanhado por
verduras colhidas no fundo de quintal e a saborosa cambuquira (broto de
abóbora). Não tinha essa coisa de escolher tipo de comida, “não gosto disso, só
gosto daquilo”. É o que estava posto à mesa. Aprendemos a apreciar o sabor do
jiló, do quiabo, da guariroba, do quibebe de mandioca, de todos os pratos que
nos fizeram sadios. Refrigerante, quando tinha, era o paladar inesquecível do Guaraná
Maçã. Sinto ainda, vivo na memória, seu cheiro e sabor.
Mas, o que mais atiça e acaricia
minhas lembranças é o colo de minha mãe. Sempre disse que colo materno tem
poder curativo. Ali, sentíamo-nos confortáveis e protegidos. Em dias de chuva,
vazavam as goteiras entre as frestas da telha comum, e nos ajuntávamos na mesma
cama de casal, buscando guarida, recolhendo ternura. Algumas coisas faltavam,
mas sobrava amor. De alguma forma, ainda moramos naquele espaço coberto com
telhas antigas, de barro. Tão frágeis, tão fortes!
Engraçado é que essas lembranças não
me ferem o coração. Brota mesmo é um sentimento de ternura e saudade sem dor.
Mesmo com a maturidade manifesta nos cabelos brancos que já chegam teimosos,
não é vergonha se aconchegar e pedir um cafuné, um abraço, um afeto. Para os
que ainda podem, é sempre bom fazer uso desse dom. Revigora a alma, ilumina a vida.
É isso aí!
1 comentários:
Parabéns Zé. Muito bom. Continue escrevendo, é sempre bom ler seus artigos. Novamente parabéns.
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