TELHAS DE BARRO

11:23 José Luiz 1 Comments

 

Lembro-me de um tempo feliz. Meus pais, rodeados de seis meninos, labutavam incansavelmente para dar conta do recado. Numa época em que tudo era mais difícil. Para chegar à escola, gostava de atravessar o mato e ir colocando frutas do cerrado no surrado embornal de pano, enroscando os chinelos nas raízes e galhos. Gabiroba, pitanga, mama-cadela e tantos outros sabores peculiares de nossa terra. No almoço, nunca faltava o pedaço de carne preparada na sustança da banha de porco, acompanhado por verduras colhidas no fundo de quintal e a saborosa cambuquira (broto de abóbora). Não tinha essa coisa de escolher tipo de comida, “não gosto disso, só gosto daquilo”. É o que estava posto à mesa. Aprendemos a apreciar o sabor do jiló, do quiabo, da guariroba, do quibebe de mandioca, de todos os pratos que nos fizeram sadios. Refrigerante, quando tinha, era o paladar inesquecível do Guaraná Maçã. Sinto ainda, vivo na memória, seu cheiro e sabor.

Mas, o que mais atiça e acaricia minhas lembranças é o colo de minha mãe. Sempre disse que colo materno tem poder curativo. Ali, sentíamo-nos confortáveis e protegidos. Em dias de chuva, vazavam as goteiras entre as frestas da telha comum, e nos ajuntávamos na mesma cama de casal, buscando guarida, recolhendo ternura. Algumas coisas faltavam, mas sobrava amor. De alguma forma, ainda moramos naquele espaço coberto com telhas antigas, de barro. Tão frágeis, tão fortes!

Engraçado é que essas lembranças não me ferem o coração. Brota mesmo é um sentimento de ternura e saudade sem dor. Mesmo com a maturidade manifesta nos cabelos brancos que já chegam teimosos, não é vergonha se aconchegar e pedir um cafuné, um abraço, um afeto. Para os que ainda podem, é sempre bom fazer uso desse dom. Revigora a alma, ilumina a vida.

É isso aí!

1 comentários:

Zé Neto disse...

Parabéns Zé. Muito bom. Continue escrevendo, é sempre bom ler seus artigos. Novamente parabéns.