GARI DO CÉU
Como nos toca a alma do poeta! Observa um urubu como um ser sublime. O
que de fato o é. Consegue enxergar luz e cor onde a maioria só vê o asco
naquele que se aproveita da putrefação. Olhar através. Ter visão de raio-x.
Assim o poeta, neste caso um cearense de nome Eudes Fraga, nos ensina. É preciso
ampliar os horizontes, a amplitude do olhar. Nem tudo é o que parece ser.
Aquilo que pode deixar uma lembrança agourenta é sinal de vida, é sinal de
purificação. Ai de nós, se não fossem os abutres. Por trás da aparência feia,
uma função divina: livrar-nos dos podres, do aroma desagradável da
decomposição.
Apesar de incompreendido, a negra ave segue sua missão. Quantos homens
e mulheres não têm suas posições censuradas, descartadas, para depois, enfim,
ocuparem lugar na história? O homem rechaça e a história consagra. Tente
vislumbrar algo novo por trás das coisas vistas a grosso modo. Não julgue, nem
condene, sem analisar sob todos os ângulos. Na escuridão da ignorância, nada se
resolve. À luz do clarividente coração, tudo se vê. Por isso, é tão importante
saber entender o outro: suas fraquezas, seus devaneios e sintomas. Pois se
olharmos direitinho veremos que também os temos.
Mesmo apedrejado, o gari do céu cumpre seu papel. Vão ter momentos em
que as pedras virão, mas ainda assim deve-se prosseguir firme na intenção,
desviando-se, fazendo uso da maleabilidade que a vida permitiu que desenvolvesse. Se é aquilo que o coração manda,
obedeça. Ele, na imensa maioria das vezes, sabe o que faz. Apesar de tudo,
voe... voe bem longe, vá onde ninguém nunca foi. Aí sim, você fará jus ao seu
chamado. Tenha certeza: todo mundo tem um.
É isso aí!
0 comentários:
Postar um comentário