GARI DO CÉU

14:13 José Luiz 0 Comments

 

“Perdoa a mão que te apedreja / Perdoa quem não te perdoa / Perdoa a pedra que te alveja / Perdoa o preconceito e voa / Para que todo homem veja / Que quem divinamente voa / Quem come o podre que ele deixa / Não pode ser inútil à toa / Gari de terno preto e asas / Perdoa o preconceito e voa... / Perdoa a voz que te pragueja / Quem simplesmente te caçoa / Perdoa o chute que te aleija / Perdoa a estupidez e voa / Para que todo homem veja / Que o teu agouro é coisa boa  / Que todo azar é uma trapaça  / Do próprio ego das pessoas / Gari de terno preto e asas / Perdoa a estupidez e voa / Mestre do vôo, divino réu, anjo de cor / Gari do céu no imenso azul e branco véu: cumpre, urubu, o teu papel...”

Como nos toca a alma do poeta! Observa um urubu como um ser sublime. O que de fato o é. Consegue enxergar luz e cor onde a maioria só vê o asco naquele que se aproveita da putrefação. Olhar através. Ter visão de raio-x. Assim o poeta, neste caso um cearense de nome Eudes Fraga, nos ensina. É preciso ampliar os horizontes, a amplitude do olhar. Nem tudo é o que parece ser. Aquilo que pode deixar uma lembrança agourenta é sinal de vida, é sinal de purificação. Ai de nós, se não fossem os abutres. Por trás da aparência feia, uma função divina: livrar-nos dos podres, do aroma desagradável da decomposição.

Apesar de incompreendido, a negra ave segue sua missão. Quantos homens e mulheres não têm suas posições censuradas, descartadas, para depois, enfim, ocuparem lugar na história? O homem rechaça e a história consagra. Tente vislumbrar algo novo por trás das coisas vistas a grosso modo. Não julgue, nem condene, sem analisar sob todos os ângulos. Na escuridão da ignorância, nada se resolve. À luz do clarividente coração, tudo se vê. Por isso, é tão importante saber entender o outro: suas fraquezas, seus devaneios e sintomas. Pois se olharmos direitinho veremos que também os temos.

Mesmo apedrejado, o gari do céu cumpre seu papel. Vão ter momentos em que as pedras virão, mas ainda assim deve-se prosseguir firme na intenção, desviando-se, fazendo uso da maleabilidade que a vida permitiu que desenvolvesse. Se é aquilo que o coração manda, obedeça. Ele, na imensa maioria das vezes, sabe o que faz. Apesar de tudo, voe... voe bem longe, vá onde ninguém nunca foi. Aí sim, você fará jus ao seu chamado. Tenha certeza: todo mundo tem um.

É isso aí!


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