DO MUNDO NADA SE LEVA
Outro dia, eu e um grupo de alunos fizemos uma visita ao cemitério. Foi uma experiência diferente. Podem até me chamar de louco e perguntar qual o propósito de uma visita assim. Foi um momento de introspecção, de análise íntima, de reflexão profunda. Foi parte de um projeto educacional. Valeu muito. Foi comovente refletir, debater e depois colocar no papel os frutos daquela experiência.
Em um cemitério não tem espaço para preconceito. Aqueles túmulos suntuosos de nada representam. Todos que ali habitam nada levaram desta vida, em termos de bens materiais. Ali não tem desigualdade. Todos se tornam iguais, e partes da terra, voltam a ser um, a sermos de fato unidos. O que fará o homem mais rico do cemitério? Já dizia o velho ditado, caixão não tem gaveta. Ali, falamos de tristeza, de saudade, mas também falamos das boas lembranças, de paz e amor. Falamos das flores que muitos ali só receberam depois da morte. Em vida, talvez, alguns nunca receberam um flor sequer. Uma situação triste, porém uma constatação daquilo que é real.
A morte é tão sorrateira que não avisa a hora, nem o dia de chegar. Para isso, melhor ir vivendo sem tanta preocupação com a indesejada das gentes, já diria o genial Guimarães Rosa que completa dizendo “a gente morre é pra provar que viveu”. Aí, vem o matuto simples e sem cultura dizendo que “até quem nunca morreu, está morrendo.” Ou seja, ela faz parte, é o ponto final, um momento singular, solitário e que ninguém pode viver por você. Se o fim vai chegar, melhor então é aproveitar o meio, o intervalo entre o começo e o fim.
A morte de fato não é a grande perda. Perda séria mesmo é o que deixamos morrer dentro da gente enquanto vivemos. Isso sim é triste. O que há de mais sofrido e amargo, as lágrimas mais tristes derramadas sobre os túmulos, são aquelas de arrependimento, por termos feito menos do que podíamos, sabendo que poderíamos ter usufruído mais da presença, ter se encantado mais, amado mais. Não deveríamos levar uma vida tão asséptica, tão linear, tão fora da própria vida, criando uma bolha sem emoção, sem gente para amar, sem aventura para viver, sem riscos a correr. Já temos tantos problemas para resolver em vida que não precisamos ficar nos preocupando com aquilo que nem sabemos quando vai chegar.
Não é fácil ver a morte de entes queridos, pessoas que amamos que vão embora antes do combinado. É triste saber que nunca mais a veremos. O luto deve ser sim vivido, mas tem prazo de validade, tempo para acabar. Aquele a quem tanto amamos quer o melhor de nós e nos ver felizes, superando toda forma de dor e sofrimento. Tão inevitável quanto a morte é a própria vida. Assim, viva, viva, viva!
É isso aí!
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