O CIÚME NOSSO DE CADA DIA

15:22 José Luiz 0 Comments

Ciúme é sentimento carregado, pesado, de quem se acha dono de algo ou alguém. A palavra ciúme se origina do latim zelumes, que deriva de zelo. É, na verdade, um excesso de zelo, uma preocupação exagerada, um cuidado extremado que sufoca e não permite voos por parte daquela pessoa vitimada pelo ciumento. “O ciúme lançou sua flecha preta... E se viu ferido justo na garganta.” Caetano Veloso soube representar bem o poder desse sentimento por vezes avassalador. Quase que instintivo, assim como a raiva, a alegria, a tristeza, todos temos. Ele, o ciúme, tem um sentido de preservação, de cuidar do que é nosso. É um sentimento que exige coletividade. Não há cena de ciúme solitária. Sempre envolve o portador, a “vítima” e o que o faz provocar. No mínimo três atores são necessários nessa trama. Quando alguém se depara com a ameaça de perda ou distanciamento de algo que nutre afeto, ocorre esse fenômeno mental. Tem quem diz não senti-lo. Pobre ilusão. Talvez sinta menos, mas é um processo natural, inerente ao ser humano, intrínseco, tão próprio da natureza humana. 

O ciúme nos acompanha desde a mais tenra idade, desde a infância. O mundo da criança se restringe aos pais. O receio da perda, ou a mera invasão a um espaço que a criança julga ser exclusivo, provoca essas reações que podem migrar até para a violência. Como tudo na vida, há o lado positivo e o lado negativo. Essas reações, se controladas, fazem parte do cotidiano de todos. O que não pode, nem deveria ocorrer, é o ciúme se tornar maior que o dono, fazendo-o escravo, vassalo, sofredor em demasia. Sofre mais - muito mais - quem sente. Quando perdermos o domínio e a razão isso se transforma em paranoia, uma quase psicose, impulsiona-nos a cometer por vezes atrocidades, cujas consequências podem ser catastróficas.

Nesta paranoia, busca-se razão para as sandices e, mesmo não as encontrando, justifica-as conforme o cérebro perturbado vai condicionando. Assim, procura evidências que venham comprovar uma suposta traição, exercendo pressão tão contundente que chega invadir a privacidade alheia, afligindo, minando a liberdade. Para o ciumento, o limiar entre imaginação, fantasia, crença e certeza se torna vago e confuso; as suspeitas podem se transformar em fatos conclusos, sem nunca ter tirado a prova. Procura-se, então, razão para as desconfianças. O ciumento contumaz, portanto, é um inseguro. Alguém, talvez, que necessita de amparo profissional, de uma terapia, de um apoio psicológico. As consequências metabólicas e psicossomáticas podem ser terríveis, provocando distúrbios, inclusive, físicos. 

É preciso perceber-se, descobrir-se nesse processo. Se algo foge ao controle e provoca dor para ambas as partes, é tempo de pedir ajuda, de abrigar-se no colo de quem pode nos amparar. O mais interessante é que o ciúme não se dá apenas em relações amorosas. Mas, as pessoas sentem ciúmes dos amigos. Por insegurança, acha que o outro dedica maior atenção a outro amigo. Há ainda os que sentem ciúmes pelas posições que ocupam. Não admitem que alguém assuma qualquer tarefa que possa merecer destaque ou brilho. Se isso ocorre, arranja mil defeitos para quem executou e também para a tarefa executada. Só consegue minimizar a força destrutiva do ciúme quem é capaz de percebê-lo em si e notar o mal que ele provoca. Ciúme é parente da inveja. São bem próximos, mas não são idênticos. Inveja é querer ter ou ser o que o outro possui. Ciúme é o excesso de zelo e medo de perder alguma coisa, levando a estas atitudes desmedidas.

Tem gente que adora dizer que o marido ou a esposa morrem de ciúmes. Acham que isso valoriza. A meu ver, quem confia não precisa temer. É sinal de insegurança, desconfiança, e não de amor. Então, tudo na dose certa. Se pouco, salva. Se muito, mata. Ciúme é feito um fármaco, um princípio ativo de qualquer medicamento. Há pessoas que vivem atormentadas pelo ciúme. Ficam em estado de vigília permanente, em processo investigativo 24 horas por dia, como se tivesse querendo achar algo que comprovasse os motivos de sua desconfiança. Com o tempo e o avanço isso pode se tornar uma patologia, uma doença. Faz mal para todo mundo. Assim, ame, proteja, cuide. Mas, acima de tudo, confie, para que possa bem amar, proteger, cuidar. “Quando a gente ama é claro que a gente cuida”. E assim será mais feliz e fara mais feliz quem ama você! 

É isso aí!

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