COMPADRE

10:56 José Luiz 0 Comments


E na frente, seguia um homem alto, esguio, de porte elegante, balançando no ar uma espada de madeira. Era o capitão da companhia, o líder daquela turma. Um belo quadro pitoresco formado de cores variadas, roupas coloridas, com rainha, rei, príncipes e princesas. Mais à frente, a imagem da Virgem do Rosário. Um grupo de Congada. Cantava alto para que os companheiros repetissem mais alto ainda. Os tambores feitos à mão, com couro de boi, ressoavam pelas ruas do lugar. O capitão, em momentos mais reservados, gostava de mencionar, com muito orgulho, que das mãos calejadas e de uma colher de pedreiro, havia educado toda uma família. Um dia me disse, convicto: “Compadre, a maior beleza da vida são os amigos.” A sabedoria exalava de sua personalidade única. Aquele homem que acolhia tão amorosamente a todos, nesta e em todas as ocasiões, partiu. 

Feliz do homem que tem amigos. Assim, coleciona histórias para contar. Mesmo que de lágrimas, mesmo que de sorrisos. Hoje, esse grande amigo foi embora. Destes raros, sábios, marcantes. Tinha um caráter extraordinário, carregava de forma intensa um carinho especial pela cultura popular, pela família, pela religião, pelos amigos. 

Guimarães Rosa disse através de seu personagem Riobaldo, em Grande Sertão: Veredas, que “toda saudade é uma espécie de velhice.” É... estou ficando velho. Meu compadre Guimarão se foi fora do combinado. Deixou como legado uma riqueza sem tamanho: a paixão pelos filhos, o amor devotado às tradições de uma maravilhosa gente de cor (era afrodescendente de pele clara), a gentileza em pessoa. Uma voz potente, porém suave, que ainda ecoa nos ouvidos dos que permanecem aqui nesta louca, porém adorável, aventura humana. Essa voz nos pede para prosseguir, na batida dos tambores do Congo, no compasso do coração amável do portador desta voz. E assim, vamos seguindo. “Vamo simbora, vamo simbora... Vamo com Deus e com Nossa Senhora...”

É isso aí!

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