José Luiz

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SOPROS DE VIDA

Imagine que esteja numa fila de hospital, por horas a fio, em que todos ali estejam tentando se encorajar, juntando resquícios de forças não se sabe de onde para, num clima razoavelmente melancólico, elevarem o nível de esperança e fé, para enfrentarem sessões de um tratamento radioterápico. De repente, chega um sujeito todo de branco que, com voz potente, convida aos que ainda tem muito a esperar para assistirem uma apresentação de uma orquestra no ambulatório do nosocômio. Como estava de acompanhante, pedi licença por alguns minutos e fui lá para ver do que se tratava. Ao chegar ao ambiente, inúmeras pessoas se acumulavam no espaço de espera. Gente de todo jeito, especialmente, gente sofrida. Rostos cansados, muitos lenços na cabeça, muita vontade de vencer. Cheguei quando tocavam “Fascinação”. De fato, foi fascinante. Ver apupos em meio à dor. Ouvir aplausos, ver expressões de alívio. Alguns não se continham e até assoviavam. Num ambiente, para muitos, estéril de alegria, ouvia-se, pelas harmonias do sax e outros, muitos sopros de vida. Nos intervalos das músicas, a moça fazia a chamada dos nomes dos pacientes pelo microfone. Tudo em sintonia. Na batida no bumbo, no chacoalhar do pandeiro, na marcação da tuba, o coração acompanhava como membro da orquestra.

Fiquei de fato emocionado. Apenas quinze minutos pude ver, pois a apresentação estava no final. Mas, foram minutos de luz, de renovada fé no ser humano. A música tem o dom de transcender, suplantar, não vê limites, ignora barreiras. A última canção a ser interpretada foi “Coração de Estudante”. Há que se cuidar da vida, do mundo, tomar conta da amizade. Ali estava escancarada a mais perfeita definição de solidariedade. Músicos tocavam como se estivessem na Broadway; a platéia como se estivesse no Parque do Ibirapuera. Nesta simbiose perfeita, de respeito mútuo, de manifesto claro de gratidão, aprendi mais uma grande lição. Há sempre espaço para a boniteza. Por mais dura que transpareça a realidade, a flor sempre encontra espaço para brotar nas frestas da rocha, dando claros sinais de vida, de ressurreição. É preciso crer!

É isso aí!