José Luiz
Quem já leu o Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry vai entender bem o que vou dizer. É preciso preservar a alma da criança dentro da gente. Somos incapazes de perceber a sabedoria de uma criança, justamente por termos deixado sufocar o espírito puro e lúdico da infância. Paulo, o apóstolo, diz em uma de suas inspiradas epístolas – cartas – que ao crescermos perdemos o que é próprio da criança, ou seja, um coração limpo, sem vaidades, ambições, rancores e obsessões. A criança tem muito a nos ensinar. Ela valoriza seu aparentemente inútil brinquedo estragado, pois para ela tem motivações sentimentais, e faz com que viaje em um universo todo particular, transporta-a para novas galáxias, faz conhecer novas pessoas e animais estranhos. A sociedade adulta vai castrando os sonhos e ilusões das crianças, endurecendo-as, até que deixam adormecidos todos os encantos da meninice. À criança é permitido chorar, brincar, correr quando der na telha. É permitido fantasiar, falar sozinho, observar imagens maravilhosas nas nuvens, inventar amigos que só existirão na suas cabecinhas criativas. Quando o adulto se aventura em brincar com seu filho, logo vem o peso da consciência que lhe cobra a realizar algo mais produtivo, ou alguém a lembrar que precisa desencadear um trabalho que frutifique renda, status, poder. Sem perceber, afasta-se, abandonando a verdadeira riqueza.
Não proponho um adulto irresponsável, que deixe de cumprir suas obrigações para viver em plena diversão. Não é isso. Há de se encontrar tempo para tudo. Especialmente, para ser um pouco mais criança, com menos ligações com o futuro, com mais vínculos com a alegria do momento. A criança consegue vibrar por mais tempo, permanecer feliz, com os elementos promotores da felicidade na cabeça por um prazo maior. O adulto grita, chora, explode com a vitória de seu time, no momento do jogo. Quando volta para casa, ao primeiro entrevero despenca os piores impropérios para cima da família.
Saint-Exupéry detalha que só se vê bem com o coração O essencial, segundo ele, é invisível aos olhos. Todo ser nasce dotado desta condição. Alguns ainda conseguem preservar a essência, e fazem muito bom uso dela. Outros se perdem na perda e, lamentavelmente, fazem amizade inseparável com a amargura. Sejamos humildes e aprendamos com as crianças. Justamente por sermos responsáveis diretos pela educação das mesmas, podemos, neste processo, sair mais leves, menos rudes conosco mesmos, mais humanos.
É isso aí!
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